À hora em que escrevo, deve estar a terminar o banquete da reconciliação no Maputo. Que Deus seja louvado pelos irmãos reconciliados. Naquela mesa, todos estivémos, em espírito!
Os jornais relatam a onda de entusiasmo e euforia com que o povo (há sempre povo para todos) acolheu o líder da RENAMO de regresso à capital do Maputo donde nunca deveria ter saído. Saudaram-no como "messias" mas parece que tiveram o cuidado de o desidentificar de Jonas Savimbi que, no mês de Janeiro de 1975, assim era saudado no chão das avenidas de Luanda "Savimbi, o Deus na Terra". Todos sabemos em que se traduziu tão falacioso messianismo.
Entre a saída e o regresso de Afonso Dlhakama à capital, ficaram milhares de vidas moçambicanas sacrificadas no altar do ódio, da arrogância armada, da incompetência e da intolerância políticas.
Faço votos - e quem é que os não faz? - por que a Paz não seja efémera mas decisiva e eterna. Que nos novos desafios e nos conflitos políticos que inevitavelmente surgirão entre as distintas forças políticas ninguém mais se lembre de ameaçar com armas. Que a civilidade seja servida, em cada mesa política, antes da refeição (parafraseando Tiago de Melo).
Infelizmente, as soluções não foram tão genuinamente moçambicanas como se desejaria. Foi difícil, mas os observadores estrangeiros aí estão para, eventualmente, garantirem, ou não, a correcção do que falta concretizar e que se torna mais difícil e melindroso: despartidarizar, radicalmente, o aparelho de estado e governamental, sobretudo as FADM e as polícias.
Que um soldado e um polícia possam ser vistos, sempre, como amigos e leais servidores de quem, em qualquer dificuldade, deles possa precisar. Como me vêm à memória os cravos vermelhos na ponta das espingardas, no meu Portugal Natal, no 25 de Abril! Soldado, camarada e Amigo! E irmão! Que não mais haja directores de serviços, sejam quais forem, que tenham, em Moçambique, de fingir serem do partido governamental ou do presidente do município. Nunca mais!
Sim, Moçambique que, no meio de muito sangue, já foi apontado como um exemplo na solução de conflitos gravíssimos pelo diálogo interno, reapareça, agora, como exemplo, para o Mundo, como construtor de uma genuína democracia moderna.
Que fique livre de teias monopartidárias e, também, dos atavismos tradicionais, por vezes teimosamente apresentados, tanto por alguns estrangeiros como por alguns nacionais, como intransponíveis tropeços à construção de um estado moderno e republicano.
Com os corações alimentados dos Novos Céus, construamos, aqui a Nova Terra. Em religião cristã costumamos convidar à Confissão dos Pecados, a pedir perdão por eles e a fazer sérios propósitos de Consciência. Bom seria que a Renamo e a Frelimo o fizessem nesta hora de novas partidas. Pedir perdão ao Povo Moçambicano, pelas vidas sacrificadas, não seria humilhação, mas nobreza de alma e superioridade política!