Páscoa de Mário da Graça Machungo
Eu
estava em Lisboa onde me chegou a notícia da Páscoa do Mário Machungo.
No livro de condolências, no seu velório na Catedral da
Igreja Lusitana (Anglicana) entendi deixar registado um pormenor do seu nome – da
Graça – nesta circunstância de “páscoa”, de significado enfatizante. A vida
do Mário foi “Graça” de Deus para todos nós que tivemos a felicidade de com ele
privarmos sonhos e projectos para a terra moçambicana. Deste Homem, nunca se ouviu nenhum daqueles adjectivos pejorativos que tantas vezes guardamos na alma sobre os defuntos. Nem do ponto de vista político nem no mais sentido estrito profissional como economista. Era um Homem de Paz e Bem!
Porém, partilho aqui um reparo que algumas vezes lhe insinuei:
que fosse mais atrevido nos seus pronunciamentos perante os errados caminhos
por que o país estava a ser conduzido... Foi, a meu ver, demasiado recatado e eu teria
gostado, e creio que muitos mais do que eu, que ele tivesse sido mais profético
nas suas apreciações e críticas ao regime. Muitas asneiras faraónicas como a (dispensável)
Ponte da Catembe e o Aeroporto de Nacala se poderiam, talvez, ter evitado, para
bem da economia nacional e consequente bem-estar do Povo Moçambicano.
Não quero também deixar de registar a serenidade da sua esposa, Maria Eugénia, cujo rosto irradiava na situação de dor e luto, conforto ressuscitador. Graças a Deus!
Não quero também deixar de registar a serenidade da sua esposa, Maria Eugénia, cujo rosto irradiava na situação de dor e luto, conforto ressuscitador. Graças a Deus!
Não posso deixar de transcrever aqui excertos do testemunho
que o nosso amigo Mário teve a amabilidade de produzir para publicação do livro Manuel Vieira
Pinto – O Visionário de Nampula
D.
MANUEL VIEIRA PINTO,
Bispo
da liberdade, da esperança e da paz
Eu vivia em Portugal
quando o bispo chegou a Nampula. Recebia notícias sobre o trabalho do bispo.
Diziam-me que as populações de Nampula adoravam o seu bispo. Dizia-se que
quando presidia `a celebração da eucaristia na Catedral de Nampula era preciso
chegar-se com muita antecedência para se conseguir um lugar, porque a Catedral
enchia-se de gente ansiosa em ouvir o bispo falar, porque ele ocupava-se de
problemas do seu povo, dos problemas que afligiam as populações, das injustiças
que se cometiam contra o povo. Esta posição corajosa do bispo despertou a
atenção dos estudantes nacionalistas moçambicanos em Portugal.
Mas quem mais pessoal e
comoventemente me falou deste bispo foi o meu pai, quando regressei a
Moçambique em 1970. O meu pai falou-me do Bispo com muito afecto e admiração. (....)
Dizia o meu pai que as homilias que o Bispo proferia na Catedral de Nampula
eram portadoras de uma mensagem libertária que mobilizava as populações
humildes e oprimidas. Dizia que nunca tinha ouvido um prelado católico romano a
falar como o Bispo Vieira Pinto para o povo moçambicano, do seu sofrimento e
das injustiças a que era sujeito pelo regime colonial fascista. O meu pai era
anglicano, mas dizia que não faltava à missa aos domingos na Catedral quando
acontecia ser o Bispo a celebrar a missa. Dizia que a Catedral transbordava de
gente humilde, sobretudo moçambicanos ansiosos por ouvir aquele Bispo que
transmitia mensagens reconfortantes, encorajadoras e portadoras de esperança
num futuro de liberdade e paz. Como eu não vivia em Nampula aconselhou-me a ir
a Nampula num domingo para ouvir aquele homem extraordinário. (.....)
Fotografia difundida antes da expulsão |
A
sua expulsão de Moçambique pelas autoridades coloniais em 1974, nas vésperas da
revolução de Abril, em Portugal, não me causou surpresa. (.....)
Com esta acção da PIDE, a
minha admiração por ele aumentou. Procurei mais uma vez vê-lo e conhecer
pessoalmente o homem que tivera a coragem de enfrentar o regime colonial em
defesa dos pobres e dos direitos elementares do povo moçambicano. Não me foi
possível. Viria a ter essa felicidade quando o sol da independência já brilhava
na nossa terra liberta e eu fazia parte do governo como ministro do Plano. ....... O bispo deitou sementes à
terra; o seu trabalho frutificou.