Vaticano: Relatório final do Sínodo centra-se na «verdade» sobre o matrimónio e a família
18 de Outubro de 2014, às 19:56
O Vaticano apresentou hoje em conferência de imprensa o relatório final da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, que debateu os temas da família, o qual sublinha a “verdade” da indissolubilidade do casamento, recusando outros tipos de união.
O documento, publicado pela sala de imprensa da Santa Sé, refere que o único “vínculo nupcial” na Igreja Católica é o sacramento do Matrimónio e que “qualquer rutura do mesmo é contra a vontade de Deus”.
O Sínodo assume a necessidade de “discernir os caminhos para renovar a Igreja e a sociedade no seu compromisso pela Igreja fundada sobre o matrimónio”, a “união indissolúvel entre o homem e a mulher”.
Os participantes sustentam que “os grandes valores do matrimónio e da família cristã” são a resposta aos anseios da existência humana face ao “individualismo” e “hedonismo”.
O documento sintetiza as duas semanas de debate, com intervenções em sessões gerais e discussões em grupos linguísticos em que se discutiu muito a relação entre doutrina e misericórdia.
Jesus, “colocou em prática a doutrina ensinada, manifestando assim o verdadeiro significado da misericórdia”, pode ler-se, antes de se referir que "a maior misericórdia é dizer a verdade com amor".
A reflexão sobre casamentos civis, divorciados e recasados na Igreja deixa uma mensagem de “amor” para com a “pessoa pecadora” e diz que esta participa “de forma incompleta” na vida eclesial.
“Trata-se de acolher e acompanhar estas pessoas com paciência e delicadeza”, pode ler-se.
O documento retoma as observações sobre a necessidade de fazer “escolhas pastorais corajosas” na ação da Igreja junto das “famílias feridas”, em particular junto de quem “viveu injustamente” a separação e o divórcio.
O relatório final do Sínodo de 2014 foi votado ponto a ponto, em cada um dos seus 62 números, que reuniu 470 propostas dos chamados ‘círculos menores’.
A 14ª Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 25 de outubro de 2015, com o tema «A vocação e a missão da família na Igreja, no mundo contemporâneo»
As votações sobre cada número foram divulgadas pelo Vaticano, por decisão do Papa, revelando que os parágrafos 52 (acesso dos divorciados recasados à Comunhão), 53 (comunhão espiritual a divorciados) e 55 (homossexuais) não chegaram a uma maioria de dois terços dos 183 padres sinodais presentes; o parágrafo 41 (matrimónios civis e uniões de facto) mereceu 54 votos contra.
Em relação ao acesso à Comunhão e à Penitência pelos divorciados em segunda união, tema sobre o qual se gerou divisão entre os participantes, alguns “argumentaram em favor da disciplina atual [que impede o acesso aos sacramentos]” e outros propõem um “acolhimento não-generalizado”.
Este foi o ponto em que houve mais votos contra (74), no qual se pede que seja aprofundada a questão, “tendo presente a distinção entre situação objetiva de pecado e circunstâncias atenuantes”.
O texto apresenta dois números sobre a situação dos homossexuais, com críticas às “pressões” sobre os membros da Igreja por causa da sua doutrina nesta matéria e às leis que instituem uniões entre pessoas do mesmo sexo.
62 pessoas votaram contra um número no qual se afirma que “os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito e delicadeza”.
O relatório do Sínodo alude ainda às propostas para tornar “mais acessíveis e ágeis”, de preferência “gratuitos”, os procedimentos para o reconhecimento de casos de nulidade matrimonial, realçando que alguns participantes se mostraram “contrários” a mudanças.
Os vários pontos apelam à valorização dos métodos naturais de planeamento natural e da adoção, condenando a mentalidade “antinatalista”; recordam a reflexão sobre a família nos documentos da Igreja e pedem liberdade de educação para os pais.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, sublinhou que este não é um documento “doutrinal” e que vai servir de base para a preparação para a assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, com três semanas de trabalho, em outubro de 2015.
(da agência ECCLESIA)