Vitória sem festa
Como cidadão atento que sempre tenho procurado ser neste meu país de adopção, não quis viver, no estrangeiro, o esperançoso e desafiante dia 15 de Outubro - Dia de eleições gerais, presidenciais, legislativas e provinciais .Chegado a Nampula, tratei de me credenciar como Observador Nacional. Sim, é nesta qualidade que gosto de agir; foi nessa qualidade que me credenciou a CNE nas primeiras eleições gerais multipartidárias (1994); foi ainda nessa qualidade que fui credenciado como membro da Rádio Encontro, de que fui director-fundador (1994), para as autárquicas de 2013; foi nesta qualidade que acompanhei - e nem pedi credencial - todos os anteriores actos eleitorais.
Pois desta vez, tive uma nega da parte do STAE (Nampula). Mas com a delicada atenção de uma resposta escrita: não podia ser observador nacional, porque lhes apresentei o meu documento de identificação (DIRE) de cidadão estrangeiro. O mesmo documento que desde sempre me identificou, e que não me impediu, além do já acima referido de assegurar a direcção legal (e não só) da revista VIDA NOVA, até 2009.
Para bom entendedor.... meia palavra basta.
Claro que esta desconsideração me não inibiu nada de seguir o processo com todo o empenho, equivalente ao amor que toda a gente sabe eu ter por esta terra de que sou cidadão de coração.
Fiquei triste e, como muitos cidadãos, lamento as irregularidades constatadas e anunciadas que impediram que este dia tivesse sido de verdadeira festa de um processo limpo e incólume. Mas indignei-me, sobretudo, com as precipitadas declarações de alguns observadores estrangeiros.Quem está no terreno, sabe que pouco ou nada observam. Dizem algumas pessoas, que vêm fazer turismo político, "vêm comer o nosso camarão"! Espantei-me ao ouvir, nos ecrãs da TVM, o mítico Comandante Pedro Pires, por parte da CPLP. Que lástima! Como é que ele, que devia ser isento, conseguiu atropelar o mais elementar processo de avaliação? Percebo agora por que a CPLP vai perdendo a honorabilidade. Sem qualquer trabalho de rigor, Pedro Pires declara justas, livres, e transparentes, umas eleições complexas, na própria noite de fecho das urnas! Quem pretende ele servir?
Seguindo o processo de apuramento que ia sendo difundido pelos órgãos de informação, sobretudo os não controlados pelo governo, vivi, em expectativa, o dia 30, o do aúncio oficial dos resultados.
O presidente da CNE, que fez questão de se apresentar, como sempre, não trajando à civil, mas como religioso muçulmano, desesperou-me com as suas infindáveis introduções formais. Tanto, que os indiscretos operadores de imagem lá mostravam, de vez em quando, uns dorminhocos da assembleia que acorrera ao CCJC. Falou, falou, falou, até nos cansar. Considerações sobre isto e aquilo, perfeitamente dispensáveis quando, o que o público mais desejava ouvir, eram os resultados.
Mas de uma coisa importantíssima se esqueceu: como se tinha processado a votação no interior da CNE. Quem ouvisse o seu discurso redondo, pensaria que tinha havido total unanimidade. A meu ver deveria ter dado os detalhes da votação: quem era quem na votação: representantes da Frelimo; da Renamo; do MDM, da sociedade civil - como terá votado cada uma destas pessoas? Soubemo-lo, em parte, nos dias seguintes, pela imprensa.
Finalmente os resultados são anunciados. Em qualquer parte do mundo, penso eu, com tão retumbante vitória, ter-se-ia ouvido a explosão de alegria dos vencedores. Nada disso aqui em Nampula. Vivia-se uma atmosfera carregada, sombria e receosa. As lojas, receando tumultos, fecharam mais cedo; as ruas estavam não digo desertas mas a parecerem isso; e, sem dissimulação, os polícias, mesmo os do trânsito, exibiam as espingardas aperradas. Estranha vitória!
Triunfará a PAZ tão frágil? Por isso rezamos!