domingo, 18 de dezembro de 2016

Quo Vadis Valentina?

Como era de esperar, tão retumbante quanto trágica notícia, para lá de invadir os meios de comunicação de todas as tendências, invadiu o âmago da sociedade moçambicana. Por razões mais do que evidentes!

Surpresa das surpresas populares! Mal saí de casa e encontrei gente de muitos níveis sociais e intelectuais, logo a minha ingenuidade é atacada. E disparam: "morta? Só acreditamos quando virmos o corpo no caixão!"

E imediatamente evocam o  caso Nyimpine Chissano que, dizem, também não teria morrido. A abundância da fantasia popular!
Neste momento já teve lugar o funeral no Cemitério de S,José de Lhanguene, depois de uma "missa presbiteriana" no bairro suburbano  de Chamanculo, segundo pude seguir pela única via de acesso que consegui ter - a RM - apesar dos prolongados e intermitentes cortes de energia da EDM durante toda a amanhã.
Mas como ler a retumbência social de uma morte tão mediática e tão trágica?

Sinal dos tempos?
Sinais de Deus?


Em todo o canto onde passei ouvi comentários a propósito: da padaria à bomba de gasolina; em cada esquina onde parei... a retumbância do acontecimento fez vibrar tudo e todos.
E não há ninguém que não especule. Tanto, tanto, que até se duvida que a pobre mulher esteja morta. Porque, dizem, a TV ainda não mostrou o corpo morto da finada; ainda não mostrou o homicida minimamente; do discurso de Margarida Talapa, riem-se, alegando não passar de uma manobra!
Certamente que hoje, os populares terão já sido saciados com as imagens televisivas e as suas desconfianças diluídas.
Onde chega a desconfiança política deste povo! Onde o descrédito chegou!!!
E, no entanto, eu não posso deixar de pensar no pobre homem que, segundo alguns jornais, se teria ido entregar na 2ª esquadra da PRM!
Que se teria passado na alma deste pobre homem? Como viverá ele estes momentos: de angústia? remorso e arrependimento? Quanto eu gostaria de o poder visitar seguindo o desafio de Jesus "Vinde benditos de meu Pai porque.... estava na prisão e fostes visitar-me".
A família da falecida precisa de consolação, sem dúvida. Mas este homicida, precisa, de certeza, de muito maior apoio espiritual. Faço votos por que lhe não falte, a começar pelos familiares da finada, na sequência da celebração cristã que quiseram conferir ao funeral! Não lhe sendo pedido um perdão judicial, a eles, como a mim, é pedida a solidariedade cristã em nome do Jesus em quem dizemos acreditar.
Mas muito mais este acontecimento pode trazer das mãos e do coração de Deus!
Quem dera que Armando Guebuza, pai da falecida, encontrasse caminhos certos para acertar as contas com o País e o seu Povo! Tem aqui uma preciosa oportunidade sobrenatural para o fazer!
Na padaria ouvi eu, quase increu: "Agora já chegou na casa dele!"

Faço votos por que possa encontrar amigos sinceros e verdadeiros, assessores funcionais e objectivos, de alta estirpe ética e moral - e psicológica e política - que o possam ajudar a gerir tão complexa situação: a pessoal e a do País em cujo centro este trágico acontecimento o colocou de novo. Por desgraçados motivos. Mas reais e incontornáveis!

São os meus votos, sinceros, genuínos. E com a esperança que a proximidade do Natal - visita de Deus - nos prodigaliza! Que venha o Senhor Jesus!

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

TODOS SOMOS POUCOS NO CAMINHO DA PAZ





Nuns jornais de Moçambique, leio que Sociedade civil exige sua integração no diálogo político.

E aparece também o MDM a reclamar, e bem, a necessidade de ser integrado no diálogo político-militar que já se arrasta, desde há anos, entre os dois militarizados partidos, Frelimo e Renamo.

Efectivamente, uma participação mais ampla de cidadãos moçambicanos poderia ajudar a diluir as resistências que opõem os dois blocos militares.

 No Wamphulafax de hoje, 19 de setembro, a mesma “sociedade civil” é acusada de ser cavalo de Troia do Ocidente. O autor não nos quis identificar nem as ditas organizações que se reclamam de falarem em nome da dita Sociedade Civil, e muito menos, apontar nomes concretos. Mas não deixa de os acusar de estarem ao serviço de obscuros interesses estrangeiros, “ocidentais”! 

Foi pena que assim tivesse agido, porque fica sujeito a ser ele acusado de cobardia e falta de frontalidade e verdade. Já assim acontecia nos tempos do colonial-fascismo com os órgãos do governo que prendia, matava, expulsava missionários e até o Bispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto, acusando-nos de estarmos ao serviço do comunismo soviético.

A legitimidade de opinar nunca deve ficar oculta e envolvida em nebulosas indeterminadas. O combate político sadio faz-se com frontalidade e olhos-nos-olhos.

Que intenções movem a Renamo dos nossos dias?

Alguém, nestes dias, dizendo-se muito bem informado e de boa fonte, me garantiu que a Renamo e o seu Presidente, assessorados por agentes estrangeiros, prosseguem desígnios de divisão do País. Tal desiderato fundamentaria a incontornável exigência de quererem “governar” as 6 províncias em que alegam ter ganho as eleições gerais de 2014. 

Não deixa de ser estranho que, por um lado, a Renamo acuse as eleições gerais de 2014 de fraudulentas e, ao mesmo tempo, reivindique uma legitimidade política assente em tal ilegitimidade.

Como já disse anteriormente, e um ouvinte da RDPA diz neste preciso momento em que escrevo, só novas eleições, não controladas pelo Governo da Frelimo, mas por uma CNE, indiscutivelmente credível, poderá resolver, radicalmente, o problema.

Entretanto, se tanto a Renamo como o Governo têm alguma compaixão pelo Povo, parem de vez com o seu  martírio abandonando a espiral militarista que está destruindo a economia do país e a vida quotidiana das famílias.

O medo que alastra e paralisa
É um facto que o medo vem crescendo assustadoramente em todo o País, tanto nas cidades como no campo. A guerra vai alastrando lenta e firmemente, pela mão da Renamo que, em jeito de guerrilha, facilmente se mostra aqui e acolá, assim dando a impressão que incendeia todo o País. De Moma ao Niassa chegam-me correios de angústia. 

Entretanto, da mesa das conversações político-militares, nada de muito esperançoso nos chega. E todos vamos ficando cada dia mais desesperados, contemplando um futuro cada dia mais funesto. 

Que será de Moçambique? Teremos de passar de novo pelas agruras da guerra civil que em 16 anos matou mais de um milhão de mortos? Já a terra cheira demasiado a sangue! Basta!

Não será a hora de todos saltarmos para a rua desafiando os inimigos – internos e externos - da Paz? 

Não será que o Presidente da República precisa mesmo de sentir o seu povo gritando pela Paz  e arrancando-o dos grilhões daqueles que o submetem à guerra? 

Não seria a hora – digo-o mais uma vez – de as Igrejas se darem as mãos em sentida e orante manifestação pública de Paz?

Bem sei que o medo reduziu o nº de participantes da manifestação havida no passado dia 27 de Agosto no Maputo. O medo obrigou muita gente a ficar em casa. Mas umas centenas de corajosos saíram. 

Não seria a hora de a Igreja Católica pôr na rua os seus fiéis em pública procissão de Paz, convergindo para as catedrais-mães de todas as dioceses para que se saiba que TODOS QUEREMOS A PAZ, a Paz de Deus! Não a do Governo ou da Renamo! Mas a de Deus que é a do Povo! Por que esperam irmãos Bispos? 

Os católicos Nyusi e Dlhakhama precisam de ouvir o nosso grito! E talvez lhes acalente a coragem de ultrapassarem os obstáculos que os seus partidários belicistas lhes impõem e, decididamente, assim amparados, avancem para a PAZ!

terça-feira, 14 de junho de 2016

Do medo à Paz efectiva



O texto do analista Noé Nhantumbo, que, com a devida vénia, copio do CanalMoz 1727, de hoje, 14 de Junho, e que publico em página anexa, deixou-me deslumbrado pela sabedoria revelada e as sugestões de nom comportamento propostas nesta hora delicada e melindrosa da vida deste Moçambique.

Com o início de funções da chamada Comissão Mista em vista do Encontro a alto nível do PR e do Líder da Renamo, esperava eu notícias mais animadoras que dissipassem as dúvidas da viabilidade real do encontro ansiosamente esperado por todo o Povo Moçambicano.

Mas começo a ficar com medo (não como o medo generalizado que já se sente na sociedade, tanto a popular como a pensante e crítica) que se repitam as tristes rondas do CCJC, mais de 100, que foram sistematicamente emperrando em birras de quem não queria, aparentemente, o verdadeiro diálogo, mas fingir que dialogava para continuar a encher a boca apenas com a dita palavra…

Sempre defendi que em Moçambique há gente com sabedoria mais que suficiente para ajudarem num genuíno DIÁLOGO NACIONAL, seriamente orientado para as soluções nacionais.

O texto do Noé Nhantumbo, como os textos dos Bispos católicos mais recentes são a prova disso mesmo. Só me fico a perguntar: por que se não aceitam estes facilitadores patriotas na efectivação do dito desejado diálogo para uma Paz sadia?

sexta-feira, 6 de maio de 2016

O Rei vai Nu! Vamos vesti-lo!



Eleições antecipadas? Por que não?

Neste dias, até tenho tido pena do governo de Moçambique! Nunca imaginei que alguma vez pudesse ser submetido a tamanha humilhação, não só na arena nacional mas também na internacional. PR e PM, em simultâneo, tem de peregrinar aos santuários dos apoios internacionais. 

Só a imoral China ficou de fora, pois, como vimos nestes dias, perante o castigo (a palavra não é minha) dos ocidentais, logo apareceu a fingir-se de “bom samaritano” oferecendo uma migalha de 16 milhões para socorrer o parceiro moçambicano. Mas logo alguém me comentou: “ainda falta muito para devolverem os milhões que já roubaram só em madeira, para não falar no resto”. 

O governo tem-se visto obrigado a reconhecer as misérias da gestão da Frelimo nos anos de Guebuza. O País está mergulhado em dívidas insustentáveis e já afogado numa derrapagem económica que na guerra já evidente tem a sua causa principal.

Como me custou ver nos écrans da TV o humilde e aparente tranquilo ministro Adriano Maleiane implicitamente denunciando o seu antecessor Manuel Chang ao declarar: “o que aconteceu não pode voltar a acontecer!
 Como me custou escutar o ex-Presidente Chissano, declarar que “as organizações internacionais devem dar ao governo de Moçambique mais uma oportunidade”. Claro que têm de dar, claro que darão, porque Moçambique é rico.

Mas quando aparece o grande líder da desgraça nacional? Permanece tão calado! Quanto tempo vai precisar a PGR para o acusar e trazer à ribalta pública?  Sim, porque o senso comum e popular assim dizia nos dias do assassinato de Cistac, em Março de 2015: “o culpado é só um, é aquele e mais nenhum”. “Mas aquele quem?”, perguntava-se. Resposta pronta e imediata: “Esse que você está a pensar”. Quem pode dizer que neste pouco enigmático linguajar não se exprime um maioritário consenso nacional? Mas porquê falar com aparente enigma e não com claros e declarados nomes? É claro, por medo. 

O medo e a humilhação dominam, hoje, este país. Medo, nos pequeninos populares. Medo também nos grandes, e mesmo nos mais veteranos. Quem é que não ouviu já o sururu subterrâneo, que corre de boca em boca, do Rovuma ao Maputo, do braço partido que ostentava uma pistola apontada à cabeça dum chefe?

Nenhuma cosmética consegue esconder tal verdade. Nem a mediatizada reunião da ACLLN, imoralmente ocupando o espaço mediático da TVM durante horas seguidas neste dia 6 de Maio. Nem sequer a também mediática visita presidencial do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, especialista em comunicação, por muitas palavras de esperança que tenha já pronunciado e suscitado do próprio Presidente Nyusi.

 Nada nem ninguém conseguirá fazer esquecer as horrorosas imagens dos corpos humanos, abandonados ao relento, que até a governamental TVM se viu obrigada a exibir. Diante de tão macabros estendais humanos, quem pode esquecer os massacres colonialistas de Mueda, Wiriamu, Mukumbura ou Inhaminga

É verdade, como se cantava na aurora da Independência desta pérola do Índico, “Não vamos esquecer o tempo que passou”, porque só a memória alimentada pela verdade histórica permite viver com realismo o presente e preparar, consistentemente, o futuro para filhos e netos.

“Sim à Paz”, continuamos todos a gritar. Uns com mais sinceridade do que outros. Mas, repito, a Paz que o Povo quer, não a paz das armas da Frelimo ou da Renamo!

Os recentes discursos dos veteranos Helder Martins e Rui Baltazar, puseram o dedo na ferida. Aí estão dois homens que provam que, se o Governo quiser, pode não precisar de mediadores internacionais. Não falta, em Moçambique, sabedoria encarnada que pode agilizar um Novo Acordo de Paz. Assim ela seja desejada sem pre-condições, seja da parte da Renamo, seja da parte da Frelimo.

Eleições antecipadas? Governo de Conciliação? Porque não?
O Presidente Nyusi, num discurso no contexto da visita do Presidente português também pôs o dedo na ferida ao dizer que a raiz da guerra está no não reconhecimento das eleições de 2014. Tem razão: todos sabemos que essa é a causa que está a arrastar, de novo, o país, para a desgraça. Será que o Presidente Nyusi está já a insinuar que devemos ter eleições antecipadas? Não seria mesmo o melhor caminho?

Não sei quanto dinheiro custaria um novo processo eleitoral. Certamente menos de não sei quantos tanques de guerra que há dias se exibiram na capital com medo do Povo. Mas talvez esse seja o melhor caminho de saneamento radical, desde que se assegure que ele seja, efectivamente, livre, justo e transparente. Creio que a comunidade internacional, com tantos interesses em Moçambique, poderia implicar-se numa nova consulta assegurando a sua gestão por entidades absolutamente independentes do Partido Frelimo ou de qualquer outro. Não seria a solução para uma paz imediata?