Gerir os espaços urbanos
Sem sombra de dúvida, o modo de gerir os espaços urbanos
revelam a visão dos respectivos edis.
O poder autárquico é, em política pura, um indeclinável
sinal de crescimento civilizacional, de cidadania política. Por um lado supõe
crescimento no sentido de participação dos/as munícipes; por outro pode servir
de incentivo a essa participação, já que se trata, sobretudo em caso de
eleições, de escolher os governantes mais ao pé da porta.
Finalmente, suporia rectidão e transperência de processos
eleitorais o que, no caso de Moçambique, é evidente ainda não existir. As
desconfianças são imensas e o caso do Guruè poderá ter sido apenas a ponta do
iceberg. No caso de Angoche, o CC não teve a coragem de ter o mesmo
procedimento mas eu próprio informei a CNE de ilícitos eleitorais que eu
julgava serem suficientes para invalidar todo o processo e obrigar, também, a
repetir as eleições.
Mas hoje quero apenas falar da gestão dos espaços urbanos,
apontando apenas duas pequenas grandes coisas, denunciadoras da falta de visão dos poderes instalados. Refiro-me às principais avenidas de
entrada nas cidades de Nacala (onder agora escrevo) e de Nampula (ligação cidade-aeroporto).
Em Nacala, subindo da cidade baixa para a alta, somos, de
repente, estrangulados por um afunilamento da avenida que, de duas amplas e
excelentes faixas, fica reduzida a uma estreita (e agora esburacada) estrada.
Só uma evidente miopia de gestão do espaço público urbano pode ter levado a tão desastroso licenciamento. A meu ver, não levará muitos anos até que o interessado investidor daquele hotel venha a reembolsar rios de dinheiro por ter de demolir tão inoportuno empreendimento. Sim, também o investidor revelou não só espírito de ganância mas também miopia urbana.
E já que falei de Nampula, falarei dos repetidos engarrafamentos na
avenida do aeroporto. Desde o tempo do chamado
Conselho Executivo da Cidade (imediato antecessor do Conselho Municipal), tal
falta de visão permitiu a construção de imóveis
comerciais de evidente prejuízo para a dignidade da cidade e a comodidade dos
transeuntes e dos automobilistas.
Há quem, maliciosamente, e para minha tristeza,
chame a estas asneiras, a africanização de Moçambique! Que deplorável, ver
cidades lindas e de rasgadas artérias, estranguladas saberá Deus por que interesses!
De facto, nunca pensei que gestões municipais modernas
pudessem ser factores de tanta regressão urbana.
Em Nacala, mesmo nas zonas até agora interditas das arribas, crescem os mastodônticos imóveis, de estilos imperiais (neocoloniais?) anunciando um
novoriquismo que deixará os pobres cada vez mais longe do desenvolvimento,
mesmo com o conhecido crescimento do PIB que tem colocado Moçambique na agenda capitalista mundial
Este estilo imperial do "deus dinheiro" é recorrente nas empresas ao longo da estrada de acesso quando, vindo de Nampula, nos aproximamos desta cidade. Arcos triunfantes de obras ainda não merecidas mas acautelando futuros interesses alheios, erguem-se, soberbos, tentando o cultar o Deus dos Pobres, os tais que, a troca de umas quinhentas, vão sendo cada vez mais marginalizados.
A isto se junta o exotismo repugnante de tiques asiáticos de Naherengue (ex-Fernão Veloso?), que denuncia não só a cegueira arrogante do empreendedor (dizem-me que é italiano) e seus comparsas, mas também a ignorância de quem, sem qualquer sentimento de dignidade nacional, licenciou a implantação de tão despedurada construção. Até quando?
Arcos e mais arcos quais torres de Babel |
A isto se junta o exotismo repugnante de tiques asiáticos de Naherengue (ex-Fernão Veloso?), que denuncia não só a cegueira arrogante do empreendedor (dizem-me que é italiano) e seus comparsas, mas também a ignorância de quem, sem qualquer sentimento de dignidade nacional, licenciou a implantação de tão despedurada construção. Até quando?