Entre
a guerra e a Paz
Milho
do Norte regressa ao Norte
Fui,
no dia 15 de Março, surpreendido por uma notícia curiosa que passo a relatar.
2
ou 3 camiões-cavalos (Freightline??) que se dirigiam para o Sul, carregados de
milho, terão sido interceptados pelos ditos Homens Armados da Renamo a sul do
Inchope (o popular que, no conhecido mercado de Nampula Waresta, me reconfirmou
a notícia, disse, claramente, Muxungwe) e, sem qualquer moléstia ou maus-tratos,
obrigados a inverter a marcha, regressando a Nampula. “Porque esse milho é
nosso”, teriam dito os ditos Renamos.
Os
comerciantes do milho tê-lo-ão descarregado uma vez chegados a Nampula e, por isso,
quando no dia seguinte, andei pelo Waresta para as minhas compras, já não vi a
operação do descarregamento.
Porém,
sem surpresa, constatei a satisfação de alguns populares por o “seu” milho ter
sido obrigado a regressar à origem, onde dizem estar quase inacessível a compra
de um saco de farinha – 1500 Mts!
Um
padre macua, disse-me, enquanto isto escrevia, que o dito milho rapidamente foi
vendido (no Waresta e na rotunda do Aeroporto) e que uma lata que normalmente
já custa 500 Mts, foi naquele dia, vendida a 250 Mts!
Quando
estamos todos suspensos entre a Paz e a guerra, não devemos deixar de dar muita
atenção a estes fenómenos, multifacetados.
1º
Foi um "cinzentinho" que me deu a notícia;
2º
Foi um popular que ma reconfirmou;
3º
Tanto um como o outro, manifestavam uma satisfação que nem a RM nem a TVM ou o
Notícias publicitaram, apesar da evidente importância política do fenómeno.
Quando,
dias depois, cheguei a Angoche, já a notícia corria de boca em boca, mesmo
entre os membros básicos do Partido Frelimo.
Sem
dúvida que o DIÁLOGO PARA A PAZ, em boa hora reproposto pelo Presidente Nyusi,
tem que descer a este realismo. Difundo este caso porque ele é, evidentemente,
paradigmático para quem queira levar a sério o problema da Paz neste país. Não
são as orquestradas reportagens da RM e da TVM - que mais me fazem lembrar as do tempo do
colonial-fascismo - que podem servir a
verdade indispensável que o Presidente não pode ignorar. Estão ali, em
homens armados e desarmados, os genuínos sentimentos de grande parte da
população moçambicana. Porventura da maioria. Não adianta nada querer enterrar
a cabeça na areia como o avestruz!
É
verdade que TODO O POVO MOÇAMBICANO quer
a Paz. Mas que coisa mais evidente, linear e indiscutível? Mas uma Paz que não
seja apenas a “paz de alguns”, à maneira de alguns, como faziam os romanos. A
Paz do Povo moçambicano nunca poderá ser apenas a paz dos partidos em
confronto.
É, por isso,
incontornável a necessidade de “ajudas” sérias e competentes no Diálogo para a
Paz.
Arcebispo da Beira - Claudio Zuanna |
Já assim foi no AGP-1992 (Roma).
Não se pode ter como pessoa de Boa-Fé
quem isto recuse. Em vez de andarem a tratar de rotular e amesquinhar os Bispos Católicos
como fez o jornalista Marcelo Mosse que eu julgava digno membro do Centro de Integridade Pública, ao Arcebispo Cláudio, da Beira,
aproveitem o muito que eles podem ajudar.
Não tenho dúvida nenhuma em afirmar que a maioria, senão a totalidade dos padres católicos deste país comunga destes sentimentos. E os crentes estão com eles! Não aproveitar esta força ética e moral indiscutível, é desperdiçar energias
da Paz.