Política – Uma forma preciosa de caridade – Papa Francisco, EG, 205
Para lá dos independentes que, oportunamente, possam surgir, já sabemos que se conta com os outros dois candidatos “naturais”: Dlhakhama (pela Renamo, que já se terá arrependido de não ter concorrido às autárquicas de Novembro passado) e Daviz Simango (do MDM).
Eu sempre ouvi dizer que, segundo os Estatutos da Frelimo, o candidato à PR é o Presidente do Partido. Não o podendo ser por imperativos constitucionais (não admissão a um terceiro mandato, como é, agora, o caso), o assunto poderia ser resolvido tal como, creio, foi em 2004: alteraram-se os Estatutos substituindo Presidente do Partido por Secretário Geral e, actu continuo, promoveu-se a substituição do SG pela personalidade que, entretanto, se manifestara apetente pelo alto cargo do País: Armando Guebuza. É certo que, naquela altura, também houve alguma encenação de eleição, mas tudo ficou muito interno e longe desta ribalta mediática que, nestes dias, tem trazido o país suspenso sobre o presente e o futuro.
Esta opção pelo mediatismo nacional teve uma vantagem: revelou um pouco mais as clivagens ou divisões que vêm atravessando o Partido Frelimo. Surgiram contestações às opções políticas de Guebuza que se traduziram no reaparecimento de figuras que tinham sido remetidas à prateleira: Aires Ali e Luiza Diogo, de forma retumbante, e Eneas Comiche e Eduardo Mulembwe de forma mais discreta. Isto dá mostras de que, também no Partido Frelimo, há reservas morais e políticas que podem viabilizar caminhos de melhores respostas às esperanças do povo do que os calcorre-ados por Gebuza, nos últimos anos.
Finalmente, na noite de ontem para hoje, 2 de Março, num acto eleitoral interno do Comité Central, o país assistiu a um exercício de democracia que me pareceu bem mais sadio do que o arcaico centralismo democrático de que a indicação dos três primeiros pre-candidatos, - Pacheco, Vaquina e Nhussi - foi, parece-me, uma derradeira tentativa. Claro que o resultado final não surpreendeu, tendo em conta a correlação de forças em presença.
Dou parabéns àqueles que, pela sua coragem política, terão contribuído para imprimir a este processo, dentro da Frelimo, alguma pureza e transparência política. Nhussi, vai ser candidato, tanto quanto me parece, também por algum mérito pessoal, depois de se ter confrontado tanto com os 2 colegas integrantes do seu governo (sendo um deles o seu PM e tendo em conta que, realmente, o governo é do PR) como Aires Ali e Luísa Diogo das ditas facções distintas. Esta confrontação que chegou a ser opinada, na TVM, por gente da Frelimo, nos intervalos mediáticos, como lição também para os outros partidos - que atrevido complexo de superioridade! - foi, pelo menos, um exercício interno de alguma democracia... Já se sente que nem tudo é monolítico, o que é muito bom.
Desejo ao candidato Filipe Nhussi uma caminhada de irrepreensível honestidade política. Prestará um grande serviço ao país se a este assunto der muitas das suas energias rumo à almejada vitória. Que ela, sendo-o, venha a ser irrepreensivelmente justa!
Como sabemos, é bastante consensual que os grandes atributos universalmente requeridos para eleições – Livres, Justas e, sobretudo, Transparentes – não têm passado de palavrório no Moçambique pluripartidário. Com mágoa o digo, porque o constatei, eu próprio, quando ainda andava ingenuamente convencido de que haveria decência política bastante para tornar inviáveis falcatruas eleitorais como aquelas que, agora, o Conselho Constitucional divulgou. O caso das autárquicas do Guruè é a prova emblemática de que, com razão, o Partido Frelimo (onde está a maioria dos meus amigos e companheiros de caminhada política desde que cheguei a Moçambique em 1968) está sob suspeita. O que é muito triste!
Desejo ao candidato Filipe Nhussi uma caminhada de irrepreensível honestidade política. Prestará um grande serviço ao país se a este assunto der muitas das suas energias rumo à almejada vitória. Que ela, sendo-o, venha a ser irrepreensivelmente justa!
Como sabemos, é bastante consensual que os grandes atributos universalmente requeridos para eleições – Livres, Justas e, sobretudo, Transparentes – não têm passado de palavrório no Moçambique pluripartidário. Com mágoa o digo, porque o constatei, eu próprio, quando ainda andava ingenuamente convencido de que haveria decência política bastante para tornar inviáveis falcatruas eleitorais como aquelas que, agora, o Conselho Constitucional divulgou. O caso das autárquicas do Guruè é a prova emblemática de que, com razão, o Partido Frelimo (onde está a maioria dos meus amigos e companheiros de caminhada política desde que cheguei a Moçambique em 1968) está sob suspeita. O que é muito triste!
Espero que Filipe Nhussi, como cristão católico que é, para bem de todo o Povo moçambicano (do Rovuma, donde ele é oriundo, até ao Maputo, onde se rege a sorte do país) leve muito a peito todas as palavras do Papa Francisco na sua recente Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), mas, muito especialmente, as que dizem respeito à Política:
“Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efectivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum.[174] Temos de nos convencer que a caridade «é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, económicos, políticos».[175] Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos. E porque não acudirem a Deus pedindo-Lhe que inspire os seus planos?Estou convencido de que, a partir duma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade política e económica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social. (Evangelii Gaudium, 205)