quinta-feira, 24 de julho de 2014

CPLP: coberta de ridículo e contradições

Coberta de ridículo e pejada de contradições porque, os seus actuais actores, nem sequer respeitam os mais elementares princípios que a regem:
1º Na Guiné Equatorial não se fala português.
2º Na Guiné Equatorial não se respeitam os mais elementares direitos humanos; não se trata de um país de direito democrático.



Não estou sozinho nesta indignação. Os intervenientes do debate africano na RDPA de hoje, e os do Contraditório da Antena 1 da RDP, de ontem,não podiam ter sido mais críticos e, por vezes, mesmo mais sarcásticos.
O caso não é para menos. Obiang fala tão bem português que apareceu na TV a responder "Si, si, muy satisfecho" (castelhano) e, no site oficial, segundo os referidos analistas da RDP, publicitou o acto da sua adesão em espanhol, francês e inglês! Onde ficou a língua  que diz ser oficial no seu país? Palhaçada! Tanta que o humorista Ricardo Araújo Pereira logo apareceu a sugerir 3 novos candidatos do estilo deste! Adivinhem!É ou não é ridículo?

Mas o que mais indigna nem é esse aspecto ridículo. o que mais me dói é saber que um torcionário - Theodore Obiang, presidente da Guiné Equatorial, denunciado pelos seus  concidadãos, sobretudo os opositores forçados ao exílio - conseguiu fazer-se aceitar no convívio de gente que parece ter esquecido a matriz dos seus fundadores e companheiros caídos em combate:


Amilcar Cabral e Aristides Pereira (Guiné-Bissau e Cabo Verde),  Agostinho Neto (Angola), Eduardo Mondlane e Samora Machel (Moçambique) e milhares e milhares de outros assassinados pelas forças colonialistas portuguesas (e indonésias, no caso de Timor-Leste) - sofreram e lutaram tudo aquilo que os mais velhos sabemos, e os mais novos devem aprender, pela Independência e pela Liberdade dos seus povos.



Apesar de toda a degradação a que temos assistido dos sonhos que nos alimentaram nos idos anos 1960, jamais me passaria pela cabeça que os petrodólares pudessem perverter tanta alma política. Jamais!Verdade seja que Jesus nos dizia neste domingo "Deixai que o trigo e o joio cresçam juntos".... Obiang vai converter-se? E o filho também? Como Zaqueu, da estória de Jesus, irão entregar aos pobres metade dos seus bens e devolver, a quadruplicar, o que defraudaram ? É uma piedosa esperança!

Samora Machel durante a luta armada de libertação nacional

Claro que há 50 anos, a Frelimo e o MPLA lutaram pela independência revolucionária e popular dos seus povos. 

Parece que os sonhos se finaram com a morte dos fundadores.
Toda a gente sabe quem é José Eduardo dos Santos de Angola. Quem tem governado, sem escrúpulos, o seu país, e, graças à hipocrisia da diplomacia, já conseguiu entrar no Vaticano do Papa Francisco, pavonear-se pelo Brasil e Cuba, não terá rebuços em hospedar o torcionário da Guiné Equatorial. O dinheiro manda mais alto.




Quem de nós poderia imaginar um combatente  como Xanana Gusmão 
 a levar, pela mão, um carrasco do seu próprio povo, como se de um menino inocente se tratasse? Onde chegámos?

Aí está para que não haja dúvidas: todos se vendem ao deus-dinheiro porque, realmente não sabem que "nem só de pão vive o homem" mas, sobretudo, da palavra, da sabedoria que sai da boca de Deus. E o Deus-Jesus foi claro: não podeis servir a Deus e ao dinheiro!

Razão tem o Papa Francisco quando diz na sua exortação apostólica A ALEGRIA DO EVANGELHO: "Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres" (Nº205).

Finalmente, e apesar de não ser "o presidente do meu voto", tenho de dar uns parabenszitos ao Presidente Cavaco Silva por ter aguentado ter ficado na situação incómoda de não aplaudir a vergonha do que estava a acontecer diante dos seus olhos. Parabéns! Mais honrado teria ficado se tivesse ficado "honradamente só" e tivesse vetado. Teria sido mestre de cidadania, de dignidade política, de verticalidade. Enfim, de tudo aquilo que os outros precisavam naquele indigno momento de vergonha política.


Quanto a Guebuza atentemos nas aflições por que se passa, hoje, em Moçambique por causa do petróleo, do gás e do carvão e de todas as outras riquezas do sub-solo que todos os dias vão surgindo. 

De facto, o poder do dinheiro corrompe os corações e as mentes. É profundamente frustrante saber que amigos meus de há 30 e 40 anos, com quem partilhei os sonhos da luta pela liberdade possam ter traído desta maneira.

Quem poderia imaginar que o PT de Lula haveria de apoiar um
 torcionário africano? Ou a ausência de Dilma significa um apoio de arrependido?

De facto, mal vai o mundo! Não admira que os políticos sejam, cada vez mais, gente sem credibilidade. Façamos coro com o Papa Francisco a ver se conseguimos mudar alguns para o caminho do Bem fazer. Pela Paz!

terça-feira, 8 de julho de 2014

Nacionalidade Honorária

Arcebispo Manuel  “o esquecido”?

 já referi em dois posts anteriores, em 14 de Abril de há 40 anos (Domingo de Páscoa) foi expulso pelo governo colonial por, sem rodeios, ter proclamado o direito do Povo Moçambicano à autodeterminação total e completa, isto é, à independência. Releiam-se, por exemplo, entre muitos, os seus emblemáticos textos Estamos numa Hora de Viragem e Repensar a Guerra.
, por isso, vergonhosamente humilhado pelos colonialistas como mostra a fotografia então profusamente distribuída de norte a sul de Moçambique e se pode rever no post anterior, com a legenda que aqui repito:

BISPO DE NAMPULA
VIEIRA PINTO
  FAMIGERADO TRAIDOR À PÁTRIA 
 INDESEJÁVEL EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS 
 VIVA PORTUGAL 
UNO E INDIVISÍVEL


Cidadão de corpo inteiro, moçambicano de zelo e coração, 
português de origem, profeta de tempos novos, só no fim do seu longo mandato de 34 anos de serviço a Nampula e a Moçambique, no dia 11 de Março de 2001, tocaria na questão da adopção da nacionalidade moçambicana. Na sessão de boas-vindas ao seu sucessor, Tomé Makhweliha, deixou escapar, com emoção: “talvez agora seja o momento para pensar nisso”.

Poucos dias depois, saiu com uma pequena maleta de viagem, como quem diz “até já, não demoro!” Não voltou mais!

Poucos dias antes, creio que na sua última homilia de despedida, na catedral, movido pela emoção mais desprendida pela idade, o coração falou mais alto e disse, bem claro, que gostaria de ali  ser sepultado. O testamento mantém-se.

De imediato, sai, no jornal SAVANA, um texto em que dois jovens macuas se manifestavam como os primeiros ingratos, ridicularizando tão afectuoso desejo do velho arcebispo! Logo um outro moçambicano, velho – o Papá M’pomberah - me apresentaria tão desprezível e ingrato artigo perguntando-me, no meu gabinete da Rádio Encontro “Está preparado para o mesmo?”

No passado dia 25 de Junho, no 39º aniversário da Independência deste pais, fui surpreendido pelo gesto inaudito de, na Presidência da República, se ter procedido a desusada cerimónia de concessão de nacionalidade honorária a personalidades estrangeiras, vivas ou defuntas.

Exultei ao rever a face solene de K. Khaunda, o tal que apadrinhou o casamento de Samora e Graça. Emocionei-me ao escutar o nome de Julius Nyerere, o mais distinto e santo político de África, sempre humilde e de coração de pobre.

E fui escutando os nomes de outros: Seretse Khama, Aldo Aielo, Maria Rafaeli.. etc.

E de repente, caí em mim, e perguntei-me: e o Arcebispo Manuel?

Pergunto agora: foi esquecimento ou está de reserva para a celebração dos 40 anos! Aqui fica sugestão, para que se não incorra em censurável ingratidão nacional.