terça-feira, 8 de julho de 2014

Nacionalidade Honorária

Arcebispo Manuel  “o esquecido”?

 já referi em dois posts anteriores, em 14 de Abril de há 40 anos (Domingo de Páscoa) foi expulso pelo governo colonial por, sem rodeios, ter proclamado o direito do Povo Moçambicano à autodeterminação total e completa, isto é, à independência. Releiam-se, por exemplo, entre muitos, os seus emblemáticos textos Estamos numa Hora de Viragem e Repensar a Guerra.
, por isso, vergonhosamente humilhado pelos colonialistas como mostra a fotografia então profusamente distribuída de norte a sul de Moçambique e se pode rever no post anterior, com a legenda que aqui repito:

BISPO DE NAMPULA
VIEIRA PINTO
  FAMIGERADO TRAIDOR À PÁTRIA 
 INDESEJÁVEL EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS 
 VIVA PORTUGAL 
UNO E INDIVISÍVEL


Cidadão de corpo inteiro, moçambicano de zelo e coração, 
português de origem, profeta de tempos novos, só no fim do seu longo mandato de 34 anos de serviço a Nampula e a Moçambique, no dia 11 de Março de 2001, tocaria na questão da adopção da nacionalidade moçambicana. Na sessão de boas-vindas ao seu sucessor, Tomé Makhweliha, deixou escapar, com emoção: “talvez agora seja o momento para pensar nisso”.

Poucos dias depois, saiu com uma pequena maleta de viagem, como quem diz “até já, não demoro!” Não voltou mais!

Poucos dias antes, creio que na sua última homilia de despedida, na catedral, movido pela emoção mais desprendida pela idade, o coração falou mais alto e disse, bem claro, que gostaria de ali  ser sepultado. O testamento mantém-se.

De imediato, sai, no jornal SAVANA, um texto em que dois jovens macuas se manifestavam como os primeiros ingratos, ridicularizando tão afectuoso desejo do velho arcebispo! Logo um outro moçambicano, velho – o Papá M’pomberah - me apresentaria tão desprezível e ingrato artigo perguntando-me, no meu gabinete da Rádio Encontro “Está preparado para o mesmo?”

No passado dia 25 de Junho, no 39º aniversário da Independência deste pais, fui surpreendido pelo gesto inaudito de, na Presidência da República, se ter procedido a desusada cerimónia de concessão de nacionalidade honorária a personalidades estrangeiras, vivas ou defuntas.

Exultei ao rever a face solene de K. Khaunda, o tal que apadrinhou o casamento de Samora e Graça. Emocionei-me ao escutar o nome de Julius Nyerere, o mais distinto e santo político de África, sempre humilde e de coração de pobre.

E fui escutando os nomes de outros: Seretse Khama, Aldo Aielo, Maria Rafaeli.. etc.

E de repente, caí em mim, e perguntei-me: e o Arcebispo Manuel?

Pergunto agora: foi esquecimento ou está de reserva para a celebração dos 40 anos! Aqui fica sugestão, para que se não incorra em censurável ingratidão nacional.