Eleições antecipadas? Por que não?
Neste dias, até tenho tido pena do governo de Moçambique!
Nunca imaginei que alguma vez pudesse ser submetido a tamanha humilhação, não
só na arena nacional mas também na internacional. PR e PM, em simultâneo, tem
de peregrinar aos santuários dos apoios internacionais.
Só a imoral China ficou
de fora, pois, como vimos nestes dias, perante o castigo (a palavra não é
minha) dos ocidentais, logo apareceu a fingir-se de “bom samaritano” oferecendo
uma migalha de 16 milhões para socorrer o parceiro moçambicano. Mas logo alguém
me comentou: “ainda falta muito para devolverem os milhões que já roubaram só em
madeira, para não falar no resto”.
O governo tem-se visto obrigado a reconhecer as misérias da
gestão da Frelimo nos anos de Guebuza. O País está mergulhado em dívidas
insustentáveis e já afogado numa derrapagem económica que na guerra já evidente
tem a sua causa principal.
Como me custou ver nos écrans da TV o humilde e aparente
tranquilo ministro Adriano Maleiane implicitamente denunciando o seu antecessor
Manuel Chang ao declarar: “o que aconteceu não pode voltar a acontecer!”
Como me custou
escutar o ex-Presidente Chissano, declarar que “as organizações internacionais
devem dar ao governo de Moçambique mais uma oportunidade”. Claro que têm de
dar, claro que darão, porque Moçambique é rico.
Mas quando aparece o grande líder da desgraça nacional? Permanece
tão calado! Quanto tempo vai precisar a PGR para o acusar e trazer à ribalta
pública? Sim, porque o senso comum e
popular assim dizia nos dias do assassinato de Cistac, em Março de 2015: “o
culpado é só um, é aquele e mais nenhum”. “Mas aquele quem?”, perguntava-se.
Resposta pronta e imediata: “Esse que você está a pensar”. Quem pode dizer que
neste pouco enigmático linguajar não se exprime um maioritário consenso
nacional? Mas porquê falar com aparente enigma e não com claros e declarados nomes?
É claro, por medo.
O medo e a humilhação dominam, hoje, este país. Medo, nos
pequeninos populares. Medo também nos grandes, e mesmo nos mais veteranos. Quem
é que não ouviu já o sururu subterrâneo, que corre de boca em boca, do Rovuma
ao Maputo, do braço partido que ostentava uma pistola apontada à cabeça dum chefe?
Nenhuma cosmética consegue esconder tal verdade. Nem a
mediatizada reunião da ACLLN, imoralmente ocupando o espaço mediático da TVM
durante horas seguidas neste dia 6 de Maio. Nem sequer a também mediática
visita presidencial do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, especialista em
comunicação, por muitas palavras de esperança que tenha já pronunciado e
suscitado do próprio Presidente Nyusi.
Nada nem ninguém
conseguirá fazer esquecer as horrorosas imagens dos corpos humanos, abandonados ao relento, que até a
governamental TVM se viu obrigada a exibir. Diante de tão macabros estendais
humanos, quem pode esquecer os massacres colonialistas de Mueda, Wiriamu,
Mukumbura ou Inhaminga?
É verdade, como se cantava na aurora da Independência
desta pérola do Índico, “Não vamos
esquecer o tempo que passou”, porque só a memória alimentada pela verdade
histórica permite viver com realismo o presente e preparar, consistentemente, o
futuro para filhos e netos.
“Sim à Paz”,
continuamos todos a gritar. Uns com mais sinceridade do que outros. Mas, repito,
a Paz que o Povo quer, não a paz das armas da Frelimo ou da Renamo!
Os recentes discursos dos veteranos Helder Martins e Rui
Baltazar, puseram o dedo na ferida. Aí estão dois homens que provam que, se o
Governo quiser, pode não precisar de mediadores internacionais. Não falta, em
Moçambique, sabedoria encarnada que pode agilizar um Novo Acordo de Paz. Assim ela seja desejada sem pre-condições, seja
da parte da Renamo, seja da parte da Frelimo.
Eleições antecipadas?
Governo de Conciliação? Porque não?
O Presidente Nyusi, num discurso no contexto da visita do
Presidente português também pôs o dedo na ferida ao dizer que a raiz da guerra
está no não reconhecimento das eleições de 2014. Tem razão: todos sabemos que
essa é a causa que está a arrastar, de novo, o país, para a desgraça. Será que
o Presidente Nyusi está já a insinuar que devemos ter eleições antecipadas? Não
seria mesmo o melhor caminho?
Não sei quanto dinheiro custaria um novo processo eleitoral.
Certamente menos de não sei quantos tanques de guerra que há dias se exibiram
na capital com medo do Povo. Mas talvez esse seja o melhor caminho de
saneamento radical, desde que se assegure que ele seja, efectivamente, livre,
justo e transparente. Creio que a comunidade internacional, com tantos
interesses em Moçambique, poderia implicar-se numa nova consulta assegurando a
sua gestão por entidades absolutamente independentes do Partido Frelimo ou de
qualquer outro. Não seria a solução para uma paz imediata?