Nuns jornais de Moçambique, leio que Sociedade
civil exige sua integração no diálogo político.
E aparece também o MDM a reclamar, e bem, a necessidade de
ser integrado no diálogo político-militar que já se arrasta, desde há anos, entre
os dois militarizados partidos, Frelimo e Renamo.
Efectivamente, uma participação mais ampla de cidadãos
moçambicanos poderia ajudar a diluir as resistências que opõem os dois blocos
militares.
No Wamphulafax de hoje, 19 de setembro, a
mesma “sociedade civil” é acusada de ser cavalo de Troia do Ocidente. O autor
não nos quis identificar nem as ditas organizações que se reclamam de falarem
em nome da dita Sociedade Civil, e muito menos, apontar nomes concretos. Mas
não deixa de os acusar de estarem ao serviço de obscuros interesses
estrangeiros, “ocidentais”!
Foi pena que assim tivesse agido, porque fica sujeito a ser
ele acusado de cobardia e falta de frontalidade e verdade. Já assim acontecia
nos tempos do colonial-fascismo com os órgãos do governo que prendia, matava,
expulsava missionários e até o Bispo de Nampula, Manuel Vieira Pinto,
acusando-nos de estarmos ao serviço do comunismo soviético.
A legitimidade de opinar nunca deve ficar oculta e envolvida
em nebulosas indeterminadas. O combate político sadio
faz-se com frontalidade e olhos-nos-olhos.
Que intenções movem a Renamo dos nossos dias?
Alguém, nestes dias, dizendo-se muito bem
informado e de boa fonte, me garantiu que a Renamo e o seu Presidente, assessorados por agentes estrangeiros, prosseguem desígnios de
divisão do País. Tal desiderato fundamentaria a incontornável exigência de quererem “governar” as 6
províncias em que alegam ter ganho as eleições gerais de 2014.
Não deixa de ser
estranho que, por um lado, a Renamo acuse as eleições gerais de 2014 de
fraudulentas e, ao mesmo tempo, reivindique uma legitimidade política assente
em tal ilegitimidade.
Como já disse anteriormente, e um ouvinte da RDPA diz neste preciso momento em que escrevo, só novas eleições, não
controladas pelo Governo da Frelimo, mas por uma CNE, indiscutivelmente
credível, poderá resolver, radicalmente, o problema.
Entretanto, se tanto a Renamo como o Governo têm alguma compaixão pelo Povo, parem de vez com o seu martírio abandonando a espiral militarista que está
destruindo a economia do país e a vida quotidiana das famílias.
O medo que alastra e paralisa
É um facto que o medo vem crescendo assustadoramente em todo
o País, tanto nas cidades como no campo. A guerra vai alastrando lenta e
firmemente, pela mão da Renamo que, em jeito de guerrilha, facilmente se mostra
aqui e acolá, assim dando a impressão que incendeia todo o País. De Moma ao
Niassa chegam-me correios de angústia.
Entretanto, da mesa das conversações político-militares,
nada de muito esperançoso nos chega. E todos vamos ficando cada dia mais
desesperados, contemplando um futuro cada dia mais funesto.
Que será de
Moçambique? Teremos de passar de novo pelas agruras da guerra civil que em 16 anos matou mais
de um milhão de mortos? Já a terra cheira demasiado a sangue! Basta!
Não será a hora de todos saltarmos para a rua desafiando os
inimigos – internos e externos - da Paz?
Não será que o Presidente da República
precisa mesmo de sentir o seu povo gritando pela Paz e arrancando-o dos grilhões daqueles que o
submetem à guerra?
Não seria a hora – digo-o mais uma vez – de as Igrejas se
darem as mãos em sentida e orante manifestação pública de Paz?
Bem sei que o medo reduziu o nº de participantes da manifestação
havida no passado dia 27 de Agosto no Maputo. O medo obrigou muita gente a
ficar em casa. Mas umas centenas de corajosos saíram.
Não seria a hora de a Igreja Católica
pôr na rua os seus fiéis em pública procissão de Paz, convergindo para as
catedrais-mães de todas as dioceses para que se saiba que TODOS QUEREMOS A PAZ,
a Paz de Deus! Não a do Governo ou da Renamo! Mas a de Deus que é a do Povo!
Por que esperam irmãos Bispos?
Os católicos Nyusi e Dlhakhama precisam de ouvir
o nosso grito! E talvez lhes acalente a coragem de ultrapassarem os obstáculos
que os seus partidários belicistas lhes impõem e, decididamente, assim
amparados, avancem para a PAZ!