O 25 de Abril e o Bispo de Nampula
O 25 de Abril apanhou o Bispo Manuel Vieira Pinto, em Portugal, na situação de expulso de Moçambique (acontecera no próprio Domingo de Páscoa- 14 de Abril, nesse ano) e, ao que tudo indicava, em riscos de ser expulso mesmo de Portugal. Era isso que parecia programado na fotografia profusamente distribuída em Moçambique, de Norte a Sul, durante o Mês de Março:
BISPO DE NAMPULA
VIEIRA PINTO
VIEIRA PINTO
FAMIGERADO TRAIDOR À PÁTRIA
INDESEJÁVEL EM TERRITÓRIO PORTUGUÊS
VIVA PORTUGAL UNO
E INDIVISÍVEL
Momentos depois de aterrar, ultrapassa as filas VIPs e vai lá atrás, às filas do povo africano que o espreitava e, tomando uma criança dos braços de uma mãe macua,
eleva-a em direcção ao sol. Murmurações surdas de colonos, e gritos de exultante alegria, de negros, misturam-se. Durante toda a sua vida Vieira Pinto narraria esta cena fundante da sua pastoral em Nampula, e que repetiria vezes sem conta, com natural agrado do Povo.
E INDIVISÍVEL
Vieira Pinto chegara a Moçambique em Setembro de 1967 onde o comando do General Kaulza de Arriaga se mostraria impotente diante da impetuosidade da luta da Frelimo. A famosa operação Nó Górdio (1970), fracassaria redondamente.
Na Catedral de Nampula, pela voz firme e profética do jovem Bispo recém-nomeado, ecoava a exortação de Paulo VI em Fátima: Homens, sede Homens!
Desde o primeiro momento, Vieira Pinto, muito espontaneamente, acontecia-lhe como agora ao Papa Francisco, e aí estava ele com gestos e palavras que deixavam os colonos desconcertados.
Desde o primeiro momento, Vieira Pinto, muito espontaneamente, acontecia-lhe como agora ao Papa Francisco, e aí estava ele com gestos e palavras que deixavam os colonos desconcertados.
Momentos depois de aterrar, ultrapassa as filas VIPs e vai lá atrás, às filas do povo africano que o espreitava e, tomando uma criança dos braços de uma mãe macua,
eleva-a em direcção ao sol. Murmurações surdas de colonos, e gritos de exultante alegria, de negros, misturam-se. Durante toda a sua vida Vieira Pinto narraria esta cena fundante da sua pastoral em Nampula, e que repetiria vezes sem conta, com natural agrado do Povo.
Depois, não perderia tempo a tratar de mudar mentalidades ao ritmo do Vaticano II. Em 1971 publicou Estamos numa Hora de Viragem, documento verdadeiramente programático de corte com os equívocos e as ambiguidades da acção missionária ao abrigo do Acordo Missionário em que a "portugalização" mais prejudicava do que favorecia uma autêntica evangelização.
Mas a Homilia do Dia Mundial da Paz de 1974 - Repensar a Guerra - foi a gota de água que fez transbordar a (im)paciência e a raiva do regime colonial, sobretudo da PIDE.
No mês de Fevereiro, os Padres e as Irmãs Combonianos publicam, na linha da atitude dos Padres Brancos em 1971, Um Imperativo de Consciência, versando sobre os direitos do Povo Moçambicano. O Bispo
assina também. Rapidamente chega ao conhecimento das autoridades e as manobras
de ataque não se fazem esperar.
Vieira Pinto,
por decisão pessoal , regressaria a Nampula em Janeiro de 1975,
em pleno processo de transição para a Independência em cuja cerimónia oficial,
no estádio da Machava, foi convidado expresso do Presidente Samora.
Já nos tempos da maldita guerra civil, pronunciou uma importante homilia no Dia Mundial da Paz de 1984 que teve por título:
Manifestações arruaceiras orquestradas pela PIDE manipulando as
forças mais primárias, ignorantes e colonialistas de Nampula, levam,
primeiro, ao ataque à Igreja Paroquial de S. Pedro, onde partiram todos os vidros, à
Catedral e ao Centro Catequético do Anchilo, bem como a pedradas e insultos de
fronte da residência episcopal, e, finalmente, à prisão de 10 missionários
combonianos juntamente com o
Bispo , a pretexto, dizia o Governador Gama Amaral, de os
defender da fúria popular. Todos seriam expulsos não só de Nampula mas também
de Moçambique.
Com o 25 de Abril não se fez esperar o desagravo político. O
General Spínola convidou-o para membro do Conselho de Estado, o que foi,
naturalmente, declinado.
Finalmente eleito presidente da CEM ainda pela maioria dos seus
pares portugueses (apenas tinham sido nomeados os dois primeiros bispos negros
moçambicanos, Alex andre Maria dos
Santos (Lourenço
Marques/ Maputo) e Januário Nhamgumbe (Porto Amélia/Pemba),
não chegaria a terminar o seu mandato. Outros valores nacionalistas se
levantavam entretanto. Mas Vieira Pinto permaneceu em serviço lúcido e dedicado
ao seu povo, agora sob os ventos da revolução marxista-leninista de que a
Frelimo se reclamava contundentemente.
São deste tempo 3 documentos importantíssimos onde a coragem e a
serenidade da sua visão profética mais uma vez se fazem alimento precioso
para quem não queria nem virar anti-comunista primário, nem colaborador
acrítico da proclamada obra de reconstrução nacional revolucionária:
- Interpelações da revolução
- Tentações da hora presente
- Um Tempo Novo
- Ateísmo e Religião - Fé e
Revolução
Já nos tempos da maldita guerra civil, pronunciou uma importante homilia no Dia Mundial da Paz de 1984 que teve por título:
A CORAGEM DA PAZ
No mês de Março seguinte seria celebrado o Acordo de Incomati
entre o regime do Apartheid e o governo de Samora Machel. Mas o martírio da
guerra perduraria ainda muito para lá da morte de Samora (19 de Outubro de
1986), até ao Acordo Geral de Paz entre a RENAMO e o Governo de Moçambique
(4.10.1992), que, por não ter sido devidamente implementado o seu protocolo IV,
está a provocar sérias perturbações militares com novas e inúteis perdas de
vidas nestes dias.
O Arcebispo Manuel
Vieira Pinto permaneceria em Moçambique até ao Mês de Março
de 2001, altura em que tomou posse o seu sucessor, o primeiro arcebispo
moçambicano de Nampula, Tomé Makhweliha.
Vive os seus últimos dias na Casa Sacerdotal da Diocese do Porto de
cuja Fraternidade foi um dos grandes impulsionadores enquanto jovem padre.