Reagindo à declaração da bancada da Frelimo
Tal como já disse anteriormente, continuo
a pensar que a bancada da Frelimo na Assembleia Municipal de Nampula perdeu uma excelente ocasião
de provar, sem qualquer sombra de dúvida, aquilo que afirma: “respeita a pessoa
do Dom Manuel Vieira Pinto, reconhece os seus feitos e préstimos dados ao país
em geral e à Província e Cidade de Nampula em particular”.
Concedo que a Frelimo tem alguma razão ao
criticar o executivo municipal por se ter distraído no tratamento atempado dos
procedimentos regimentais, não tendo apresentado o assunto à AM há mais tempo,
pelo menos antes que tivesse aparecido a placa indicando o lugar da sua construção
o que induziu a pensar-se que tudo estava nos conformes. Mas é estranho que durante
todos os meses que tal placa lá está ninguém tivesse interpelado o Conselho
Municipal.
Porém, uma coisa é aprovar um nome a
atribuir à Biblioteca a criar e, tanto quanto soube, era apenas e só isso que
se pretendia, outra coisa são os outros aspectos correlativos: registo
notarial, projectos arquitectónicos, fontes de financiamento, etc, etc, coisas que,
naturalmente, só se consideram, publicamente, depois da existência concordada, pela
entidade competente, neste caso, a AM.
Ter avançado com a ideia da proposta de
criar uma Biblioteca Municipal a que se atribuiria o nome do nosso
ex-arcebispo, Manuel Vieira Pinto cuja grandeza humana, pastoral e política é indiscutivelmente
reconhecida – e pela declaração do Dr Kulyumba confessada – parece mais do que sensato. Bastaria consultar
os testemunhos já publicados de personalidades de alta reputação como o ex-presidente Joaquim
Chissano, o ex-Primeiro-Ministro, Mário Machungo, e o testemunho do escritor
Mia Couto.
Em assunto de tão evidente consenso social
e político (sei que todos os deputados reconhecem a envergadura do
homenageando), parece-me demagógico estar a defender que “é preciso promover
uma auscultação pública envolvendo todas as sensibilidades e todos os extractos
sociais: académicos, anciãos, líderes comunitários, etc.”. Seria um puro
exercício burocrático de legalismo regulamentar e político. Desnecessário e,
por isso, inútil. Perda de tempo.
Será que o Povo moçambicano, do Rovuma ao
Maputo (e já não acrescento do Zumbo ao Índico) foi consultado para se apor o
nome do hoje controverso ex-Presidente da República à ponte sobre o rio Zambeze
entre o Caia e a Zambézia? E se o tivessem referendado, será que se constataria
tão evidente consenso como o de Vieira Pinto? Haja bom senso. Tudo tem os seus limites e circunstâncias. Não
são os deputados representantes bastante
para tomarem uma decisão de evidente consenso público? Claro que são!
Pergunta ainda o Dr Kulyumba qual o motivo
da pressa. Qualquer pessoa minimamente cidadã pode discernir até mais do que um
motivo... Um deles, porventura não sendo politicamente o mais relevante, poderá
ser o de querer, de algum modo, ainda no presente mandato municipal, resgatar o
esquecimento que, afinal, já se estende por alguns anos.
Afinal, desde 1998 que o Município de
Nampula existe. É verdade que à estrada que desce para o Bairro do Namicopo foi
atribuído, oportunamente, no tempo da presidência do Dr Chereua, o nome do D.
Manuel.
Mas que foi feito nesta cidade, após a sua
retirada, em Março de 2001, para enfatizar e rentabilizar tal figura e o seu
património intelectual, social, cultural e político, não esquecendo, obviamente,
o seu domínio mais específico, de natureza religiosa e pastoral, alicerce de
todas as suas atitudes? Não foi a Frelimo, anos a fio, a gestora deste
Município, até 2013?
Como acima refiro, tem todo o sentido criticar
o executivo municipal pela distração em ter avançado com a publicitação da
localização da futura biblioteca sem ter cumprido o elementar procedimento junto
da competente Assembleia Municipal. Por inadvertência, “pôs-se a carroça à frente
dos bois”. Mas que prejuízo real daí adveio à cidade?
Aproveitar este anódino deslize legal,
que, a meu ver, poderia ter sido devidamente escalpelizado em sede de
assembleia, para nem sequer permitir que o assunto fosse agendado é, a meu ver,
e dito em linguagem popular, politiquice;
é desqualificar a dignidade e a nobreza da Política que, no dizer do Papa
Francisco - de quem Manuel Vieira Pinto foi um magistral precursor nas terras
moçambicanas - embora tão denegrida (e por culpa de quem, pergunto eu?) “ é uma sublime vocação, é uma das formas mais
preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.
Claro que aos deputados do MDM eu assaco
iguais críticas mais uma: como já disse antes, abstendo-se, têm a atitude
hipócrita de Pilatos para com a morte de Jesus Cristo “Estou inocente do sangue
deste Justo”!
Deixo-vos um desafio: tratem de desagravar,
quanto antes, aquilo que ofenderam: a figura de Vieira Pinto e a vossa própria dignidade
política. Errar é humano! Mas emendar-se também o é. Para os homens e mulheres
de alma grande e honra por inteiro.