domingo, 8 de março de 2015

Voltou o Medo

Gilles Cistac 


Não imaginava que houvesse em Moçambique um cidadão do perfil histórico e da envergadura deste que agora se revela após a sua criminosa morte.

Nunca me tinha cruzado com ele. Comecei a ver o seu nome nos jornais decentes de Moçambique há poucos meses, a propósito das eventuais alterações ao regime politico-administrativo de Moçambique na sequência das controversas eleições de Outubro passado.Mas nunca tive a ventura de com ele cruzar ou falar. Penso que teria gostado bem de com ele discutir!
Sobre o seu assassinato, estão os jornais de Moçambique cheios de referências, até aqueles que, aparentemente, nas vésperas do seu holocausto, contra ele se teriam coligado.

Tal como há mais de 20 anos aconteceu com Carlos Cardoso, também estava, nestes dias, no Maputo. Partilhei, com todos os que que se indignaram com este odioso acto, a homenagem que foi sendo rendida no local do crime.

Logo na 1ª noite, ali me detive por uns instantes, na companhia da Sílvia Bragança, viúva do grande combatente Aquino de Bragança, que pereceu com o saudoso Samora Machel.

Contemplando as velas e as flores de homenagem emotiva e silenciosa, na 1ª noite, e, ontem, no início da marcha de protesto que a Polícia, infelizmente, interromperia depois do 1º trecho até à Faculdade de Direito da UEM onde o Professor Cistac era catedrático, senti, bem na alma, estas palavras cantadas nos anos 60, contra o colonial-fascismo, pelo Chico Fanhais:

Não desertamos!
O ódio, o medo a morte,
Que fujam que desertem!
Se o amor os insulta e ameaça!
Nós ficamos!
 Com os companheiros e o amor dos companheiros
o amor será mais forte do que o ódio, do que o medo, do que a morte!
Não desertamos! (http://www.youtube.com/watch?v=ppFLBlsNWkY)


Nestes dias, multiplicam-se as declarações quanto à identidade dos assassinos materiais…. Mas, curiosamente, poucos se perguntam sobre os presumíveis autores morais. Por medo, todos o calam! 


Um homem simples da rua me disse “isto é também para complicar a vida do Presidente Nyusi”. A sábia carta do Carlos Serra vem neste encalço. É preciso dar alento às iniciativas de paz e diálogo do PR Nyusi com Afonso Dlhakama. Da oração à partilha de gestos e opiniões, saiamos dos esconsos do medo.

A marcha de protesto e indignação, de ontem, dia 7 de Março, no Maputo, não mobilizou a multidão que seria de esperar. Porque há medo!
Porque, dir-me-ia alguém, os esbirros andam por lá, e o pão / o emprego, fica em perigo. Sim, o medo regressou. Exorcisá-lo é tarefa de cada amante da Paz!