terça-feira, 22 de março de 2016

Entre a guerra e a Paz Milho do Norte regressa ao Norte



Entre a guerra e a Paz
Milho do Norte regressa ao Norte


Fui, no dia 15 de Março, surpreendido por uma notícia curiosa que passo a relatar.

2 ou 3 camiões-cavalos (Freightline??) que se dirigiam para o Sul, carregados de milho, terão sido interceptados pelos ditos Homens Armados da Renamo a sul do Inchope (o popular que, no conhecido mercado de Nampula Waresta, me reconfirmou a notícia, disse, claramente, Muxungwe) e, sem qualquer moléstia ou maus-tratos, obrigados a inverter a marcha, regressando a Nampula. “Porque esse milho é nosso”, teriam dito os ditos Renamos.

Os comerciantes do milho tê-lo-ão descarregado uma vez chegados a Nampula e, por isso, quando no dia seguinte, andei pelo Waresta para as minhas compras, já não vi a operação do descarregamento.
Porém, sem surpresa, constatei a satisfação de alguns populares por o “seu” milho ter sido obrigado a regressar à origem, onde dizem estar quase inacessível a compra de um saco de farinha – 1500 Mts!

Um padre macua, disse-me, enquanto isto escrevia, que o dito milho rapidamente foi vendido (no Waresta e na rotunda do Aeroporto) e que uma lata que normalmente já custa 500 Mts, foi naquele dia, vendida a 250 Mts! 

Quando estamos todos suspensos entre a Paz e a guerra, não devemos deixar de dar muita atenção a estes fenómenos, multifacetados.
1º Foi um "cinzentinho" que me deu a notícia;
2º Foi um popular que ma reconfirmou;
3º Tanto um como o outro, manifestavam uma satisfação que nem a RM nem a TVM ou o Notícias publicitaram, apesar da evidente importância política do fenómeno.

Quando, dias depois, cheguei a Angoche, já a notícia corria de boca em boca, mesmo entre os membros básicos do Partido Frelimo.

Sem dúvida que o DIÁLOGO PARA A PAZ, em boa hora reproposto pelo Presidente Nyusi, tem que descer a este realismo. Difundo este caso porque ele é, evidentemente, paradigmático para quem queira levar a sério o problema da Paz neste país. Não são as orquestradas reportagens da RM e da TVM -  que mais me fazem lembrar as do tempo do colonial-fascismo - que podem servir a verdade indispensável que o Presidente não pode ignorar. Estão ali, em homens armados e desarmados, os genuínos sentimentos de grande parte da população moçambicana. Porventura da maioria. Não adianta nada querer enterrar a cabeça na areia como o avestruz!

É verdade que TODO O POVO MOÇAMBICANO  quer a Paz. Mas que coisa mais evidente, linear e indiscutível? Mas uma Paz que não seja apenas a “paz de alguns”, à maneira de alguns, como faziam os romanos. A Paz do Povo moçambicano nunca poderá ser apenas a paz dos partidos em confronto.

É, por isso, incontornável a necessidade de “ajudas” sérias e competentes no Diálogo para a Paz.
Arcebispo da Beira - Claudio Zuanna
Já assim foi no AGP-1992 (Roma). 

Não se pode ter como pessoa de Boa-Fé quem isto recuse. Em vez de andarem a tratar de rotular e amesquinhar os Bispos Católicos como fez o jornalista Marcelo Mosse que eu julgava digno membro do Centro de Integridade Pública, ao Arcebispo Cláudio, da Beira, aproveitem o muito que eles podem ajudar. 

Não tenho dúvida nenhuma em afirmar que a maioria, senão a totalidade dos padres católicos deste país comunga destes sentimentos. E os crentes estão com eles! Não aproveitar esta força ética e moral indiscutível, é desperdiçar energias da Paz.