terça-feira, 13 de junho de 2017

Biblioteca D. Manuel Vieira Pinto 3





 Reagindo à declaração da bancada da Frelimo


Tal como já disse anteriormente, continuo a pensar que a bancada da Frelimo na Assembleia Municipal de Nampula perdeu uma excelente ocasião de provar, sem qualquer sombra de dúvida, aquilo que afirma: “respeita a pessoa do Dom Manuel Vieira Pinto, reconhece os seus feitos e préstimos dados ao país em geral e à Província e Cidade de Nampula em particular”.

Concedo que a Frelimo tem alguma razão ao criticar o executivo municipal por se ter distraído no tratamento atempado dos procedimentos regimentais, não tendo apresentado o assunto à AM há mais tempo, pelo menos antes que tivesse aparecido a placa indicando o lugar da sua construção o que induziu a pensar-se que tudo estava nos conformes. Mas é estranho que durante todos os meses que tal placa lá está ninguém tivesse interpelado o Conselho Municipal.

Porém, uma coisa é aprovar um nome a atribuir à Biblioteca a criar e, tanto quanto soube, era apenas e só isso que se pretendia, outra coisa são os outros aspectos correlativos: registo notarial, projectos arquitectónicos, fontes de financiamento, etc, etc, coisas que, naturalmente, só se consideram, publicamente, depois da existência concordada, pela entidade competente, neste caso, a AM.

Ter avançado com a ideia da proposta de criar uma Biblioteca Municipal a que se atribuiria o nome do nosso ex-arcebispo, Manuel Vieira Pinto cuja grandeza humana, pastoral e política é indiscutivelmente reconhecida – e pela declaração do Dr Kulyumba confessada –  parece mais do que sensato. Bastaria consultar os testemunhos já publicados de personalidades de alta  reputação como o ex-presidente Joaquim Chissano, o ex-Primeiro-Ministro, Mário Machungo, e o testemunho do escritor Mia Couto.

Em assunto de tão evidente consenso social e político (sei que todos os deputados reconhecem a envergadura do homenageando), parece-me demagógico estar a defender que “é preciso promover uma auscultação pública envolvendo todas as sensibilidades e todos os extractos sociais: académicos, anciãos, líderes comunitários, etc.”. Seria um puro exercício burocrático de legalismo regulamentar e político. Desnecessário e, por isso, inútil. Perda de tempo.

Será que o Povo moçambicano, do Rovuma ao Maputo (e já não acrescento do Zumbo ao Índico) foi consultado para se apor o nome do hoje controverso ex-Presidente da República à ponte sobre o rio Zambeze entre o Caia e a Zambézia? E se o tivessem referendado, será que se constataria tão evidente consenso como o de Vieira Pinto? Haja bom senso. Tudo tem os seus limites e circunstâncias. Não são os deputados  representantes bastante para tomarem uma decisão de evidente consenso público? Claro que são!

Pergunta ainda o Dr Kulyumba qual o motivo da pressa. Qualquer pessoa minimamente cidadã pode discernir até mais do que um motivo... Um deles, porventura não sendo politicamente o mais relevante, poderá ser o de querer, de algum modo, ainda no presente mandato municipal, resgatar o esquecimento que, afinal, já se estende por alguns anos.

Afinal, desde 1998 que o Município de Nampula existe. É verdade que à estrada que desce para o Bairro do Namicopo foi atribuído, oportunamente, no tempo da presidência do Dr Chereua, o nome do D. Manuel.

Mas que foi feito nesta cidade, após a sua retirada, em Março de 2001, para enfatizar e rentabilizar tal figura e o seu património intelectual, social, cultural e político, não esquecendo, obviamente, o seu domínio mais específico, de natureza religiosa e pastoral, alicerce de todas as suas atitudes? Não foi a Frelimo, anos a fio, a gestora deste Município, até 2013?

Como acima refiro, tem todo o sentido criticar o executivo municipal pela distração em ter avançado com a publicitação da localização da futura biblioteca sem ter cumprido o elementar procedimento junto da competente Assembleia Municipal. Por inadvertência, “pôs-se a carroça à frente dos bois”. Mas que prejuízo real daí adveio à cidade?

Aproveitar este anódino deslize legal, que, a meu ver, poderia ter sido devidamente escalpelizado em sede de assembleia, para nem sequer permitir que o assunto fosse agendado é, a meu ver, e dito em linguagem popular, politiquice; é desqualificar a dignidade e a nobreza da Política que, no dizer do Papa Francisco - de quem Manuel Vieira Pinto foi um magistral precursor nas terras moçambicanas - embora tão denegrida (e por culpa de quem, pergunto eu?)  é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.

 Claro que aos deputados do MDM eu assaco iguais críticas mais uma: como já disse antes, abstendo-se, têm a atitude hipócrita de Pilatos para com a morte de Jesus Cristo “Estou inocente do sangue deste Justo”!

Deixo-vos um desafio: tratem de desagravar, quanto antes, aquilo que ofenderam: a figura de Vieira Pinto e a vossa própria dignidade política. Errar é humano! Mas emendar-se também o é. Para os homens e mulheres de alma grande e honra por inteiro.